Entre os setores mais atingidos pela pandemia de Covid-19, o da aviação civil é justamente o que vem apresentando a maior deterioração e possivelmente as maiores mudanças. Com uma retração de 75% na demanda por voos domésticos e de 95% por voos internacionais, de acordo com Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), restam às companhias Azul, Gol e Latam reduzir drasticamente os custos e buscar auxílio financeiro no mercado.
As primeiras informações não-oficiais sobre o pacote de ajuda do governo federal ao setor já foram divulgadas. Segundo o que vem sendo discutido, o auxílio ficará próximo a R$ 4 bilhões, bem abaixo dos R$ 10 bilhões sugerido anteriormente.
O pacote será composto por até 60% de crédito do BNDES, o equivalente a R$ 2,4 bilhões, e não mais de 10% de outros bancos, ou R$ 400 milhões. Os outros 30% deverão ser levantados no mercado de capitais pelas próprias companhias aéreas.
A operação, que segue os moldes inicialmente propostos, consiste na emissão de debêntures combinada com um bônus de subscrição, que é convertido em ações como garantia ao BNDES. O modelo abre espaço para o governo ganhar participação nas aéreas, mas a estatização não é o objetivo do governo federal e tão pouco deixa de ser uma das únicas alternativas das companhias em crise.
Quanto à divisão dos valores, apenas o teto máximo para o auxílio de R$ 2 bilhões por empresa foi divulgado, mas há restrições à Latam. Fruto da fusão entre Lan e TAM, é a única companhia que não está listada na bolsa de valores brasileira. Com sede no Chile, onde possui capital aberto, a empresa deverá se listar na B3 através dos BDRs (Recibos de Depósito Brasileiro) para receber o auxílio do governo.
Nos últimos dias, a Azul divulgou os resultados do primeiro trimestre do ano e registrou o prejuízo ajustado de R$ 975 milhões, enquanto a Gol reportou o ganho líquido de R$ 351,9 milhões. A diferença nos resultados veio, principalmente, do aumento dos gastos da Azul no período.
Mas não é o caso de comemorar os ganhos da Gol, pois o segundo trimestre deve apresentar o aprofundamento da crise no setor, que já é considerada a pior desde o pós-guerra.
O pacote apresentado pode ser insuficiente para segurar o impacto da crise, principalmente quando alguns estados estão considerando endurecer as medidas de isolamento, enquanto cresce a preocupação com uma segunda onda de contágio de Covid-19. Desta forma, mesmo com o auxílio do governo, a cautela com o setor permanece.