Com 224 mil hectares, comunidades da Terra Indígena Sete de Setembro, do povo Paiter Suruí, em Rondônia, apostam em inovações como forma de valorizar a floresta que preservam e de envolver novas gerações da etnia na bioeconomia amazônica, por meio do turismo.
Além da melhoria da infraestrutura para receber visitantes, o modelo de negócio realiza tours virtuais em sessões on-line que levam a uma imersão na floresta – um aperitivo da experiência real de interação com as atividades econômicas e o modo de vida local – oferecida pelos indígenas nos pacotes turísticos.
Alinhado à floresta em pé como estratégia contra o desmatamento e a mudança climática do planeta, o projeto Yabnaby – Espaço Turístico Paiter Suruí consiste portanto na primeira agência indígena de etnoturismo criada e mantida por povos originários na Amazônia. A atividade compõe o plano de gestão de 50 anos do território suruí, com ações que antes aconteciam de maneira informal e esporádica e que agora serão assim aperfeiçoadas a partir de um plano estratégico de negócios.
“Vamos ampliar a estrutura, capacitar e aumentar a equipe e implantar a experiência virtual”, afirma Pí Suruí, à frente da iniciativa ao lado do irmão, Oyexiener Suruí, dedicado à logística operacional em campo.
Filhos de Almir Suruí, liderança indígena que se destaca como uma das mais empreendedoras do País com prêmios internacionais em direitos humanos, a dupla busca um novo padrão de qualidade à lista atrativos turísticos: banho de rio, comida e medicina tradicional, dança, contação de histórias, passeios de barco, trilhas na floresta e vivência com atividades produtivas, a exemplo do café e da extração de óleos e outros itens vendidos a indústrias de cosméticos no cenário da bioeconomia.
“Dar visibilidade e obter receita compatível com o serviço ambiental que prestamos para a sociedade são fundamentais para dessa forma valorizar a floresta e a nossa cultura”, ressalta Pí Suruí.
A novidade recebeu R$ 522 mil do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), política pública federal que repassa para startups recursos que as indústrias da Zona Franca de Manaus são obrigadas a investir como contrapartida dos incentivos fiscais. Com o investimento, estão previstas a ampliação física da estrutura de recepção assim como a capacitação de trinta jovens indígenas em hotelaria, empreendedorismo e gestão, além das ferramentas digitais de interação que segundo Pí Suruí mostram a tradição da etnia de pensar muito à frente no tempo.
“Comunidades tradicionais ficam à mercê das alterações da natureza e por isso precisam de maior diversificação na geração de renda associada à biodiversidade, e o turismo é uma dessas opções para uma maior estabilidade financeira”, explica Paulo Simonetti, líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio.
A iniciativa acumula R$ 128 milhões em aportes, no total de 37 empresas investidoras. Atualmente, há 35 projetos inovadores já finalizados ou em execução nos estados do Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia e Acre.
No contexto da bioeconomia inclusiva, o projeto de turismo suruí se junta a outras temáticas apoiadas com recursos empresariais do Polo Industrial de Manaus, nas áreas de novos cosméticos, alimentos funcionais e veganos e bioplásticos, por exemplo, construindo assim pontes entre inovações que precisam de impulso e o mercado.
Essas e outras iniciativas foram destaque recente, de 28 a 30 de novembro, na Expoamazônia Bio&Tic 2023, feira de exposições realizada em Manaus que uniu tecnologias do mundo digital às inovações na bioeconomia amazônica, demonstrando a crescente maturidade das startups do setor.
Na ocasião, foram apresentadas soluções como a linguiça e a almôndega de açaí, da startup Amazônia Smart Food; o conceito de coquetelaria com insumos regionais para as bebidas, da empresa da Cruz; e o pirarucu com selo orgânico e a ideia de levar o abacaxi regional amazônico – o mais doce do País – para os mercados das grandes capitais brasileiras.
“Na nova agência indígena, um dos objetivos é integrar o sistema de reservas às plataformas de hospedagem do mercado”, conta Sheila Noele, presidente da Ecoporé, ONG local parceira do povo indígena suruí no projeto junto ao PPBio. “A ideia é portanto replicar o modelo para outros territórios indígenas e etnias, de forma que as atividades turísticas locais se tornem autossuficientes”.