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Sensibilidade, dedicação e competência

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Nascida em uma comunidade rural, cercada pela natureza e por tradições familiares, Bianca Pizzolito – sobrenome de origem italiana que herdou de seu pai – cresceu em meio a mesas fartas, histórias e brincadeiras. “Essas memórias são parte do que sou até hoje. Guardo lembranças afetuosas da infância, que associo à liberdade: brincadeiras na rua com meus primos, café da tarde com mesa cheia na casa da minha avó e muitas histórias sem fim sobre tempos passados, mas ainda vivas na lembrança dos mais velhos. Gosto de pensar no quão importante era essa reunião de diferentes gerações e como isso acontecia de uma forma fluida, com muita sensibilidade”, recorda.

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Durante coletiva de imprensa WTM Latin America 2025

Desse passado amistoso, ela entende que parte disso se perdeu com a dinâmica moderna das grandes cidades, mas, mesmo assim, de alguma forma, segue vivo dentro de cada um. “Acredito que a nossa história de origem não termina na infância, ela ecoa em nossas escolhas, nos vínculos que criamos e na forma como desejamos viver o presente. E é bonito perceber que, mesmo longe do lugar onde cresci, levo comigo aquilo que realmente importa: afeto, presença e a memória viva dos que vieram antes de mim.”

Aos 17 anos Bianca muda-se sozinha para a capital paulista com o objetivo de cursar Lazer e Turismo na Universidade de São Paulo (USP). A decisão foi o ponto de virada de uma trajetória que uniria teoria acadêmica, paixão por culturas e uma sede insaciável por vivências reais. Durante a graduação, ela flertou com a pesquisa acadêmica, mas acabou optando por colocar os pés na prática.

“Percebi que precisava vivenciar e entender como as ideias se materializavam no cotidiano do mercado. Foi assim que iniciei minha caminhada profissional. Estagiei na Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo e, após a graduação, fui para o Canadá em um intercâmbio de um ano, onde trabalhei com a organização de eventos. De volta ao Brasil, traduzi livros de turismo, atuei como assistente na ONG Global Travel and Tourism Partnership, e depois assumi a gerência de projetos na Associação das Prefeituras de Estâncias Turísticas do Estado de São Paulo, um verdadeiro laboratório para entender o turismo sob a ótica pública e regional”, conta.

Em 2013, a profissional de olhar analítico e comprometida com impacto real, entra para o time da RX, inicialmente como executiva de vendas, responsável por governos estaduais e municipais, até assumir a gerência comercial para o mercado da América Latina, passando portanto a liderar toda a equipe de vendas para a entrega do evento.

Essa trajetória permitiu conhecer de perto o funcionamento do turismo em escala global, com suas articulações políticas, culturais e estratégicas. Conviver com lideranças do mundo tudo e com equipes multiculturais em uma empresa desse porte foi e continua sendo para ela uma escola. “A diversidade de perspectivas, de pensamentos, de olhares ainda me encanta e é uma rica fonte de inspiração. Mais recentemente, fiz um MBA em Gestão de Negócios, que me trouxe a visão objetiva e estratégica necessária para essa etapa da minha carreira”, relata.

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Abertura da WTM Latin America 2025

Desafios e superações

Apesar do sucesso, sua trajetória foi marcada por desafios que atingem muitas mulheres no mercado de trabalho. Começou jovem, em um setor marcado por lideranças masculinas e por estruturas de poder onde, muitas vezes, é preciso ter presença com delicadeza e firmeza ao mesmo tempo. “Já tive ideias ignoradas em reuniões até que um homem dissesse o mesmo. Fui subestimada por ser mulher, jovem, e por vir de uma formação que nem sempre é valorizada no mundo corporativo.”

A eventleader – WTM Latin America by RX Global passou por diversas lideranças e é muito grata a cada uma delas. Estabeleceu vínculos duradouros, aprendeu a enxergar o turismo por diferentes perspectivas, o que contribuiu para o seu olhar crítico e eclético. “Passei também por estruturas distintas dentro da mesma empresa, mas costumo dizer que foram muitas empresas em uma só. Essa vivência no turismo também serviu para o meu desenvolvimento como ser humano, pois comecei muito nova a trilhar esse percurso. Continua sendo uma grande escola e eu fico feliz que tenha sido assim, pois é uma indústria muito inspiradora”, observa.

Como mulher, Bianca garante que ocupar um espaço de liderança é um movimento contínuo de afirmação, sensibilidade e estratégia. “A conquista é diária, mas também abre caminhos para as que virão depois.”

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Em Londres, uma de suas muitas viagens ao exterior

O mercado de eventos e o protagonismo feminino

Segundo a executiva, o mercado de eventos no Brasil está consolidado, com eventos generalistas e nichados em plena atividade. “Estar à frente de um evento como a WTM Latin America me faz conectar com tantos territórios, pessoas, culturas e ideias que é uma experiência poderosa e me ensina muito, profissionalmente e pessoalmente. A cada edição, me sinto provocada a repensar o que é relevante para o setor”, conta.

Ao completar 13 anos de carreira e dois à frente da WTM Latin America, ela comenta que mesmo com essa trajetória sólida na área comercial e um olhar atento ao mercado, ainda sente esse papel como algo em constante construção. “Sabe quando você acompanha o crescimento de uma criança e não consegue ter a real noção do quanto ela cresceu por estar tão perto? É assim que me sinto com esse evento.”

Nesse percurso, um divisor de águas para Bianca foi a pandemia. “Fomos desafiados a migrar rapidamente para o digital, e o desenvolvimento do evento virtual exigiu de nós novas competências, novas ferramentas, e um novo entendimento do que significa ‘encontro’. Hoje, a tecnologia está integrada de forma definitiva à WTM, e esse salto nos fez crescer. Acho que já vivi todos os tipos de questões, mas todo ano sempre surge algo novo, e trabalhar com eventos é lidar com o inesperado. É o setor do turismo condicionado a muitos movimentos econômicos, políticos, sociais e ambientais.”

Quanto à presença da mulher no mercado de eventos, a desigualdade de gênero ainda persiste. “Estatísticas recentes mostram que cerca de 60% da força de trabalho no turismo brasileiro é composta por mulheres, o que não se traduz proporcionalmente em posições de liderança. Alguns são comandados por mulheres, como no portfólio WTM, em que três de quatros eventos têm uma liderança feminina. No mercado nacional também podemos ver outros exemplos, mas se analisarmos o cenário como um todo, é exceção, o que torna esses papéis ainda mais relevantes”, afirma Bianca.

Ainda sobre esse assunto, ela percebe que o mercado continua refletindo desigualdades estruturais, desde barreiras no acesso a oportunidades, dificuldade de conciliação entre maternidade e carreira, até resistência cultural a modelos de liderança femininos. “É importante destacar que o crescimento da presença feminina em posições de liderança também representa uma mudança histórica. Até poucas décadas atrás, o papel social da mulher era restrito a funções domésticas ou de suporte. Em 1962, por exemplo, mulheres casadas ainda necessitavam da autorização do marido para trabalhar fora ou viajar sozinhas no Brasil”, comenta ela.

“Hoje, cada mulher em posição de decisão carrega não apenas sua trajetória individual, mas também o avanço de toda uma linha geracional que lutou por equidade. A inserção da mulher no mercado, portanto, não é apenas uma conquista pontual, é parte de uma transformação mais ampla. Reconhecer, apoiar e visibilizar essa presença é essencial para inspirar as novas gerações e construir um setor mais plural, justo e inovador”, completa.

Registro de Bianca meditando

Lazer, maternidade e futuro

Fora do trabalho, a vida de Bianca Pizzolito é atravessada por curiosidade e pluralidade. Leitura, psicanálise, meditação, cinema e viagens fazem parte da sua rotina. “Um dos campos que mais me acompanha há anos é a psicanálise. Tenho verdadeira admiração por esse universo e, sempre que posso, participo de cursos, debates e leituras que me aprofundam nesse olhar sobre o ser humano. Da mesma forma, a meditação ocupa um espaço importante na minha rotina, é uma prática que me ajuda a me recentrar, silenciar e entender melhor os meus movimentos internos”, revela.

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Bianca Pizzolito com seu filho

Hoje, seu maior foco está em casa: seu filho de quase um ano, fruto de seu casamento com sua esposa em 2018. “Ele chegou trazendo alegria, leveza e uma nova revolução. Estou me reconhecendo como mãe e essa tem sido a maior e mais doce de todas as aventuras. Construir uma vida fora da cidade onde nasci também me deu a chance de me reinventar e assim formar uma ‘família escolhida’ composta por pessoas que estão ao meu lado no dia a dia, nas alegrias e nas diferentes travessias. Hoje, as minhas famílias, de origem e do cotidiano, formam uma rede grande, potente e significativa.”

Entre livros técnicos e literatura, os títulos em sua cabeceira refletem sua amplitude de interesses: Flow – A psicologia do alto desempenho e da felicidade, de Mihaly Csikszentmihalyi, e Eram os deuses astronautas?, de Erich Von Däniken. Filmes, peças de teatro, shows também entram no seu cardápio de lazer, assim como produções independentes, que são abundantes no cenário paulistano. “Tenho olhado com carinho o cinema nacional, embora goste bastante de produções europeias. Sinto que a cultura me alimenta e me nutre.”

E é com essa essência curiosa que Bianca gosta de conhecer diferentes destinos, alguns fora do circuito, quando viaja. Ela faz questão de estar perto da rotina, do cotidiano do lugar. “Gosto de me aproximar de quem vive ali, andar pelas ruas sem pressa, entender a dinâmica, porque acredito que as pessoas e seus ritmos também são parte do destino”, conta.

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Ferias merecidas e pose para a posteridade

Quanto ao futuro, ela declara que mais do que liderar um evento, deseja deixar um legado de transformação. “Quero construir pontes humanas, criativas e sustentáveis. Que a WTM seja não apenas um palco de negócios, mas também um espaço de diálogo e de protagonismo real.”

De Mogi das Cruzes ao comando de uma das principais feiras de turismo do mundo, sua história é exemplo de como o afeto, a coragem e a visão podem, juntos, transformar territórios, sejam internos e externos.

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