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Josh Jost, do The Brando Hotel: da estratégia global ao coração sustentável da Polinésia

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Em um cenário onde o luxo frequentemente se desvincula de responsabilidade, o The Brando representa uma exceção rara — e, por trás desse ícone da hospitalidade sustentável, está o olhar criativo e estratégico de Josh Jost, atual diretor de marketing do hotel. Sua trajetória, que começou nos bastidores das grandes marcas globais, se desdobra hoje em um dos destinos mais exclusivos (e conscientes) do mundo: o atol de Tetiaroa, na Polinésia Francesa.

Josh Jost, do The Brandon Hotel: da estratégia global ao coração sustentável da Polinésia
Josh Jost, atual diretor de marketing do hotel

Jost é um arquiteto de narrativas. Antes de ancorar sua carreira no Pacífico Sul, acumulou mais de uma década de experiência em branding, trabalhando com empresas da Fortune 500, grandes nomes da moda e gigantes da tecnologia. “Minha formação sempre foi contar histórias de marcas com autenticidade e propósito”, resume.

Foi exatamente esse talento que o levou a ser convidado para um projeto singular: desenvolver a identidade de uma ilha privada nas Maldivas. Ali, mergulhado nas especificidades do turismo de luxo, teve contato com os bastidores da hospitalidade de alto padrão — e, paralelamente, começou a pesquisar os melhores resorts insulares do mundo. Um nome sempre sobressaía: The Brando.

“Quando recebi o convite para fazer uma consultoria de três semanas no The Brando, fiquei em choque. Era o projeto mais icônico da minha lista. Fui para o Taiti sem saber o que esperar. Três semanas depois, eu já não queria mais sair”, afirmou o diretor de marketing.

O encantamento de Jost não veio apenas da beleza da ilha, mas da integridade do time por trás do empreendimento. “Conheci o CEO, o proprietário, os funcionários e todos partilhavam uma mesma visão: inspirar o setor de turismo com um novo modelo, onde a sustentabilidade não fosse um adereço, mas o centro de tudo.”

Poucos meses depois, veio o convite definitivo: integrar a equipe de forma permanente. “Na época, eu vivia em Londres. Voltar ao Pacífico, onde passei parte da infância, fez todo o sentido. Mas, mais do que isso, encontrei um projeto com alma”.

Josh Jost do The Brandon Hotel da estratégia global ao coração sustentável da Polinésia

Um laboratório vivo de inovação ambiental

Localizado em Tetiaroa — outrora retiro da realeza taitiana e, mais tarde, propriedade de Marlon Brando — o resort é fruto de uma promessa entre o ator e o empresário Richard Bailey. Brando sonhava em provar que o turismo de luxo podia existir em harmonia com a natureza, e exigiu que qualquer projeto futuro na ilha fosse fiel a esse ideal. Bailey aceitou o desafio.

Josh Jost explica que o The Brando nasceu do zero: sem eletricidade, sem água encanada, sem qualquer infraestrutura. Foi necessário inovar em todas as etapas. “O maior consumo energético de um resort tropical vem do ar-condicionado. Era inconcebível usar combustíveis fósseis. A solução foi buscar no oceano profundo a resposta”.

Um sistema pioneiro de resfriamento com água do mar (SWAC) foi implantado: um circuito leva água gelada retirada de mil metros de profundidade até as instalações do hotel, resfriando os ambientes com 95% menos consumo energético. “Hoje, após uma década de operação, o investimento já se pagou e gera energia limpa e gratuita para sempre”, afirma.

A sustentabilidade permeia tudo: 60% da energia vem de painéis solares, o restante é gerado por biocombustíveis. A água da chuva é captada e tratada, as águas residuais são recicladas para irrigação, o vidro é triturado e transformado em areia para trilhas, e os resíduos orgânicos viram adubo em menos de 24 horas.

Josh Jost do The Brandon Hotel da estratégia global ao coração sustentável da Polinésia

Cultura viva, não performática

Para Jost, o luxo do The Brando também está no respeito à essência cultural do território. “Tetiaroa foi, por séculos, um ponto de encontro sagrado entre tribos polinésias. Casamentos, alianças, rituais: tudo passava por aqui. Essa energia ancestral ainda está presente.”

A arquitetura — assinada por Pierre-Jean Picart — não busca criar um espetáculo visual. Pelo contrário: segue princípios de simplicidade, harmonia e integração com a natureza. “É uma beleza que não grita. As vilas são construídas com materiais naturais, com formas que dialogam com a paisagem. É um luxo que se sente, não que se exibe.”

A presença cultural é discreta, mas profunda. “Aqui, os funcionários não são roteirizados. Eles compartilham a própria história, a própria visão de mundo. Isso transforma a experiência do hóspede — não é um teatro polinésio, é um encontro verdadeiro”.

Educação, pesquisa e preservação e o impacto além do turismo

O The Brando não se limita a hospedar. A Tetiaroa Society, organização sem fins lucrativos ligada ao resort, conduz programas educativos com jovens da Polinésia e do exterior. “Eles aprendem sobre sua própria história, biodiversidade, ciência e cultura no coração do atol. Para muitos, é uma experiência transformadora.”

Mais de uma dezena de projetos científicos estão em curso, em parceria com universidades como Berkeley e Washington. “Estudamos raias, tartarugas, tubarões, aves. Nosso objetivo é restaurar o ecossistema a um estado anterior à ocupação humana. E já vemos resultados visíveis.”

Socialmente, o compromisso é real. Polinésios compõem grande parte da equipe, inclusive ocupando cargos de liderança. “Criamos um ambiente onde eles se sentem seguros para crescer. Nem sempre têm acesso à formação internacional, então oferecemos capacitação interna, com muito incentivo ao desenvolvimento profissional.”

Um legado em vida

O compromisso com os valores de Marlon Brando é levado a sério. “A família ainda é proprietária da ilha e participa da governança do projeto. Filhos e netos do ator se envolvem ativamente. Um deles, por exemplo, guia expedições de pesca com os hóspedes.”

Josh Jost sorri ao responder à pergunta sobre seu filme favorito de Brando. “Claro que O Poderoso Chefão é um clássico, mas guardo um carinho especial por Don Juan DeMarco e O Calouro. Foi com esse último que vi Brando pela primeira vez — ele era maior que a vida.”

Reportagem: Mary de Aquino
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