Início Artigos Gigante ainda adormecido

Gigante ainda adormecido

22
0
COMPARTILHAR

Saudações à comunidade que faz o turismo brasileiro… Agentes de viagem, receptivos, hoteleiros, motoristas, carregadores de bagagens, profissionais das companhias aéreas e a todos aqueles que, direta ou indiretamente, se beneficiam dessa indústria gigante e vital, mas menosprezada pelo Estado brasileiro há décadas. Qual o nome do último ou do atual ministro do Turismo? Cite uma política recém-criada para melhorar a vida de viajantes, sejam brasileiros ou estrangeiros? Não vale pesquisar no Google.

O parágrafo acima se faz necessário para o prosseguimento desse texto, pois é o primeiro tópico que quero abordar, como guia de turismo, para uma análise mais aprofundada sobre essa mina de ouro, o turismo nacional. A quantidade de profissionais que trabalham em regime de CLT ou prestando serviços é imensa e esse número pode aumentar, exponencialmente, em todas as regiões do País.

Como todos sabem, temos um país continental com ampla gama de atrativos como turismo de lazer, cultural, ecológico, religioso, de negócios e eventos, aventura, sol e praia, esportivo, gastronômico e tantos outros. Tudo isso amparado por um povo naturalmente cordial e receptivo, capaz de receber visitantes do mundo inteiro, mas que ainda aproveitam muito pouco todo esse potencial.

Em pesquisa publicada pela Organização Mundial do Turismo (OMT), o Brasil recebeu, em 2024, um total de 6,65 milhões de turistas estrangeiros, enquanto o México, com as mesmas características que as nossas, 38,3 milhões. Outro país, a República Dominicana, mais próximo e com muito menos atrativos, registrou um total de 7,16 milhões.

Entre os motivos mais visíveis para apontar essa marca tão ínfima, de um país com mais de 200 milhões de habitantes, estão os altos preços das passagens aéreas para visitantes internos. Há outros motivos, como os altos índices de criminalidade e a insegurança pública, a baixa qualidade nos serviços oferecidos, pouca promoção e divulgação do destino Brasil e, fundamentalmente, a precária infraestrutura para atender uma clientela exigente, com demanda de serviços de qualidade que em certas regiões não estão disponíveis.

Em uma cidade como o Rio de Janeiro, por exemplo, o embarque e desembarque no RIOgaleão – Aeroporto Internacional Tom Jobim é dificultado pelo tamanho da fila de táxis comuns ocupando uma área antes destinadas a ônibus de Turismo, que transportam mais de 40 pessoas por vez; a falta de bolsões de estacionamento para os veículos que transportam diariamente turistas aos atrativos da cidade localizados, prioritariamente, na Zona Sul; falta de fiscalização dos serviços oferecidos e de pessoal não habilitado, no caso de guias de turismo piratas; falta de guias bilíngues em destinos que têm uma grande demanda de turistas.

A resolução de muitos desses problemas pode ser alcançada com uma política de educação e treinamento para cidadãos locais dos mais diversos setores, com cursos técnicos acessíveis, não somente para a população, mas para os empregadores poderem capacitar seus colaboradores. Se faz necessário, também, investimentos em infraestrutura das cidades, qualificação e fiscalização para a melhora da prestação de serviços e garantia de segurança para que os destinos se tornem mais atraentes.

Vou finalizar alertando para o atual cenário turístico internacional, um momento que o Brasil precisa saber aproveitar. Cidades europeias, invadidas nas férias de verão, têm filas quilométricas em todas as atrações, hotéis lotados, preços superfaturados e situações políticas instáveis. Algumas localidades na Europa chegaram a solicitar que turistas não viajassem a destinos onde o overbooking se transformou em um grande problema para os cidadãos locais.

O mercado está aberto para oferecer o Brasil como o grande destino que ele é, mas antes de oferecê-lo ao mundo precisamos caprichar na arrumação da casa para saber e poder receber bem a visita.

Artigo de Marcelo Costa, profissional de turismo há mais de 40 anos. Atualmente é guia de turismo no Rio de Janeiro e operador de receptivo para outros destinos no Brasil.
Leia também O marketing que transforma o turismo
Visited 19 times, 3 visit(s) today