O interesse de Sérgio Moreno pela mixologia nasceu cedo, impulsionado pelo prazer de receber bem. Ainda adolescente, era ele quem criava experiências nas reuniões familiares e entre amigos. Apesar de ter cogitado estudar medicina ou psicologia, sentia que servir e acolher eram partes essenciais de sua identidade.

Aos 17 anos, decidiu estudar mixologia, mas os excessos típicos daquela fase o afastaram temporariamente da área. “Terminei estudando administração de empresas por insistência dos meus pais”, relembra. Depois de formado, encontrou no universo do café uma ponte inesperada de volta ao que realmente amava.
Ao abrir sua própria cafeteria, criou uma pequena carta de coquetéis à base de café — e foi ali que começaram a surgir elogios espontâneos sobre seu talento. Anos mais tarde, já mais maduro, retomou os estudos na mixologia. “Já são mais de dez anos nesta profissão e não há nada que eu desfrute mais do que estar atrás da barra, conversando com as pessoas e levando experiências únicas”, afirma Moreno.
A história do perfume que quase virou trauma
Entre suas memórias de juventude, há uma que hoje rende risadas, mas que na época terminou no hospital. Após a morte do avô, que tinha um quarto repleto de licores e destilados trazidos de viagens, Sérgio decidiu explorar cada garrafa.
“Encontrei uma que cheirava delicioso e a levei para provar com amigos”, conta. O que parecia um gin exótico era, na verdade, um perfume da avó que havia sido guardado junto aos destilados. “Achamos que estávamos mal por excesso de álcool, mas terminamos no hospital. Levei anos para voltar a interagir com gin”, brinca o mixologista.

Quase três anos no Hotel B e um público internacional curioso por experiências
Moreno atua há quase três anos no Hotel B de Lima, onde desenvolve experiências líquidas criadas em conjunto com a equipe do bar. Como membro da prestigiada rede Relais & Châteaux, o hotel recebe viajantes que buscam mergulhar na cultura peruana desde o primeiro instante.
A maioria dos participantes dos workshops de mixologia vem de países como Estados Unidos, Espanha, Inglaterra e Brasil. “Nosso compromisso é receber bem desde o momento em que entram pela porta. Muitos chegam ao Peru pela primeira vez e querem conhecer nossa gastronomia e nossas bebidas”, explica o mixologista.
Como funcionam os workshops e quem são os viajantes que mais se interessam
As atividades seguem uma organização precisa: depois de receberem as informações, os hóspedes reservam suas vagas e o hotel coordena as áreas envolvidas semanalmente para garantir que tudo esteja pronto.
O público atraído pelas experiências é variado. “Recebemos famílias, casais, grupos de amigos e até equipes de trabalho”, conta Moreno, destacando que a mixologia funciona como um elo entre diferentes perfis de viajantes.

Representar o Peru por meio da coquetelaria
Filho de um médico e de uma psicóloga, Sérgio cresceu em um ambiente marcado pelo cuidado e pela escuta — algo que ele leva para cada narrativa que constrói em seus coquetéis.
“Cada bebida tem um ingrediente importante e, acima de tudo, cultura”, afirma. Para ele, quem experimenta a coquetelaria peruana não leva apenas sabores exóticos, mas também um fragmento da história, da ancestralidade e das lutas de seu país.
Os coquetéis da experiência e sua importância para a identidade peruana
Os workshops guiados por Moreno levam os visitantes a uma viagem pelas três regiões do Peru: costa, selva e Andes.
Usando exclusivamente espíritos peruanos, os participantes aprendem a preparar três coquetéis:
✓Pisco Sour, ícone nacional que representa a costa;
✓Um coquetel com gin amazônico, produzido com botânicos da selva;
✓Uma bebida à base de vodka de batata nativa, celebrando os Andes.
“Cada um deles evidencia a biodiversidade de insumos que temos em cada região e ressalta a beleza da nossa cultura”, resume o mixologista.

A convivência diária com turistas e o encanto das trocas culturais
Estar diariamente com viajantes de diferentes países é, para Sérgio, um privilégio. “Cada cliente é um mundo distinto. É bonito poder compartilhar e aprender com cada um deles”, diz.
O poder da bebida para unir culturas
Para Moreno, a coquetelaria é uma linguagem artística. “A coctelería também é uma forma de expressão do arte”, afirma. Ele vê, todos os dias, desconhecidos de diversas nacionalidades aproximarem-se na barra e terminarem a noite conversando como amigos.
Entre goles e histórias, compartilham lembranças, viagens e origens. E é nesse encontro — tão humano quanto líquido — que um bom coquetel revela sua verdadeira potência: unir pessoas.




