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Além dos lugares bonitos: Gisele Abrahão, CEO da GVA, revela o novo cenário do marketing turístico

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“Destinos não são apenas lugares bonitos, são pessoas, cultura e narrativas que têm alma.” Ao falar sobre turismo, Gisele Abrahão rompe com a ideia simplista de que viajar é apenas contemplar paisagens. Sua trajetória, marcada por ousadia e inovação, tem revelado ao setor que o verdadeiro valor de um destino está na sua essência: nas pessoas que o habitam, na cultura que o sustenta, na economia que o movimenta e nas histórias que o tornam único. Nesta entrevista à Revista Marco Zero, Gisele Abrahão compartilha sua visão sobre as transformações do marketing turístico, os desafios do presente e as oportunidades do futuro.

Além dos lugares bonitos Gisele Abraão, CEO da GVA, revela o novo cenário do marketing turístico

A mudança de mentalidade no marketing de destinos

Ao refletir sobre o início da carreira e o cenário atual, Abraão destaca uma revolução silenciosa: a transformação da mentalidade. Se antes o marketing de destinos se concentrava apenas em atrair visitantes, hoje existe uma compreensão crescente de que essa estratégia é limitada.

“Os destinos deixaram de ser vistos apenas como pacotes turísticos. Eles passaram a ser entendidos como organismos vivos, feitos de pessoas, crenças, cultura, economia local e atitudes. Quando reconhecemos que um destino tem alma, tudo se transforma: campanhas ficam mais completas, impactos mais profundos e a experiência mais autêntica, tanto para quem vive ali quanto para quem visita”, explica.

A tecnologia foi fundamental para essa virada. Ferramentas de análise de dados, automação, convergência de mídias digitais e o uso do conteúdo gerado por viajantes abriram espaço para narrativas mais plurais. Mas, segundo Abrahão, a grande mudança está na escuta. Hoje, não basta projetar mensagens: é preciso co-criá-las com comunidades locais e com os próprios viajantes.

A essência global da GVA

Quando fundou a GVA Company, Abrahão já vislumbrava um trabalho que ultrapassasse fronteiras. O nome Global Vision Access traduz esse ideal: enxergar globalmente e acessar diferentes mercados conectando pessoas que compartilham valores comuns.

“Estamos baseados no Brasil, mas atuamos nos Estados Unidos, na América Latina e em outros continentes. Não se trata de ser multinacional ou transnacional, mas de ser global em essência”, resume.

Essa atuação, no entanto, exige flexibilidade. No Brasil, a comunicação precisa enfrentar desafios estruturais e burocráticos, além de buscar sensibilizar e educar públicos diversos. Já em mercados internacionais, o foco se volta para padrões de transparência, sustentabilidade e representatividade. O que não muda, segundo Gisele Abrahão, é a essência: trabalhar com integridade, inovação e paixão por gerar impacto positivo.

Além dos lugares bonitos Gisele Abraão, CEO da GVA, revela o novo cenário do marketing turístico

Sustentabilidade como fundamento

Se há um conceito que orienta o pensamento de Abrahão, esse conceito é a sustentabilidade. Para ela, não é possível falar em turismo sem colocar essa palavra no centro.

“Sustentabilidade não é um detalhe ou um adereço: é a base. O turismo só será duradouro, justo e transformador se for pensado de forma sistêmica, considerando meio ambiente, cultura, economia local e inclusão social”, afirma.

Essa abordagem exige o envolvimento das comunidades desde o início dos projetos. Em vez de figurantes, moradores devem ser protagonistas. Isso significa investir em capacitação, fomentar o empreendedorismo local, compartilhar os lucros do turismo e respeitar tradições como parte legítima do destino. Para Abrahão, sem essa valorização, a experiência turística corre o risco de se tornar superficial.

A CEO reforça ainda a importância da educação. Turistas devem ser conscientizados sobre impactos e consumo responsável; negócios locais precisam de orientação em práticas sustentáveis; governos devem assumir políticas públicas que protejam o patrimônio natural e cultural. Só assim, diz, o turismo se torna um verdadeiro encontro de enriquecimento mútuo.

Representatividade e adaptação cultural

Outro ponto crucial levantado por Gisele Abrahão é a representatividade. Ela defende que a comunicação de destinos precisa refletir sua diversidade de forma autêntica e não como um recurso exótico.

“Minha convicção é clara: adaptabilidade e representatividade são imperativos. Cada mercado tem sensibilidades próprias, mas a diversidade étnica, cultural e de vozes locais deve estar no centro da narrativa. Quando um viajante se reconhece nas histórias contadas, cria-se empatia, confiança e conexão real”, explica.

Nesse processo, a adaptação da mensagem é indispensável. Enquanto alguns públicos valorizam experiências culturais autênticas, outros se interessam mais por ecoturismo, gastronomia ou patrimônio histórico. Saber dialogar com cada audiência sem perder identidade é, para Abrahão, uma forma de respeito e um caminho para consolidar a imagem global dos destinos.

Desafios e oportunidades para o setor

O cenário do turismo internacional não é isento de obstáculos. Entre os maiores desafios estão os recursos limitados — de tempo, orçamento e equipe — que muitas vezes comprometem a consistência das estratégias. Além disso, a fragmentação entre stakeholders, que inclui governos, setor privado e comunidades, torna a colaboração mais difícil. Some-se a isso a pressão ambiental e climática, que obriga destinos a repensarem sua capacidade de receber visitantes e proteger seu patrimônio natural.

Apesar desse quadro, Abrahão enxerga um campo fértil de oportunidades. A cultura de colaboração, segundo ela, pode ser a chave para destravar processos e potencializar resultados. Quando diferentes atores se unem — destinos, operadoras, comunidades, imprensa, empresas de tecnologia e influenciadores — surgem narrativas mais fortes e resultados mais amplos.

A tecnologia também abre horizontes: experiências imersivas, realidade aumentada, personalização de dados e o marketing de experiência criam novas formas de conexão entre viajantes e destinos. Além disso, o crescimento do turismo consciente e a busca por bem-estar e autenticidade colocam em destaque destinos que saibam aliar responsabilidade e inovação.

Para Abrahão, o futuro pertence a quem souber unir relevância e propósito. “Não basta mostrar o lugar bonito. É preciso mostrar a alma que o sustenta. O turismo do amanhã será marcado pela responsabilidade, pela representatividade e pela capacidade de contar boas histórias”, conclui.

Reportagem: Mary de Aquino
Fotos: Acervo pessoal de Gisele Abraão
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