Início Arte e Cultura por Adriana Sorgenicht Teixeira Letras e luzes de Loyola e Conrado III

Letras e luzes de Loyola e Conrado III

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Esta semana nossos holofotes se voltam para o recém-empossado imortal da Academia Brasileira de Letras, o escritor Ignácio de Loyola Brandão, em uma entrevista fictícia, na seção Sala de Estar. Por sua vez, em Calendário, homenagem ao vitralista Conrado Sorgenicht Filho, que nos deixou em 1994.

Vamos destacar o impressionante legado artístico de Conrado, impregnado de um “estilo brasileiro” que ainda hoje pode ser apreciado em centenas de catedrais, museus, teatros, universidades, edifícios públicos e particulares e outros espaços de todos os quadrantes do país.

Por ora, abrimos espaço para essas duas seções. Em breve, para outras que já compõem a fanpage da Revista ARTUR desde o seu início.

Calendário remete ao passado, com informações breves sobre datas alusivas a cultura e viagens.

Sala de Star se propõe a receber convidados dos dois setores. Eles contam suas experiências como viajantes e apreciadores de artes plásticas e visuais, cinema, dança, literatura e teatro. Boa leitura!

Calendário Há 25 anos, o adeus ao gênio dos vitrais

Descendente de imigrantes alemães radicados no Brasil em 1875 e terceiro de uma linhagem que gerou a tradição do vitral e da técnica do vidro gravado no Brasil a partir de 1888, país onde esta arte adquiriu características próprias, abordagem inovadora e estilo nacionalista, Conrado Sorgenicht Filho (1904-1994) nos deixou há um quarto de século.

Até a geração de seu avô, o vitral era de cunho notadamente sacro e europeu. Com isso, a nova proposta foi uma verdadeira revolução artística em nosso país.

De seus 90 anos de vida, ao menos sete décadas foram direcionadas a projetos e execução de vitrais em obras arquitetônicas de grande importância. Além de se dedicar a várias outras áreas congêneres, de norte a sul do país.

Valor artístico, caráter monumental e originalidade são a marca registrada dos vitrais que levam sua assinatura. (Crédito: Rose Perussi)

Somando-se o trabalho dos Conrados – avô, pai e neto – em cem anos foram mais de 600 conjuntos de vitrais instalados em catedrais, igrejas e capelas. E também em edifícios públicos e particulares, dos quais a maioria localiza-se em São Paulo.

Sua empresa, a Conrado Vitrais e Cristais Ltda, também conhecida como Casa Conrado, atuou em muitas das principais obras da capital paulista e até hoje está presente no Mercado Municipal (cinco anos, de 1928 a 1933, para concluir a reprodução figurativa de toda uma época, onde 55 vitrais retratam a lavoura paulista da década de 20), Teatro Municipal, Faculdade de Direito da USP, FAAP, Assembleia Legislativa, Beneficência Portuguesa e Casa das Rosas, só para citar algumas delas.

O artista no Hospital Beneficência Portuguesa (SP), diante de um de seus painéis preferidos. (Crédito: Rose Perussi)

Também é seu o vitral do salão da Bolsa do Café de Santos (SP). É a primeira interpretação plástica e luminosa de motivos tipicamente regionais sobre os bandeirantes e a uma lenda indígena sobre pedras preciosas.

Na verdade, este foi o trabalho de estreia de Conrado III, aos 18 anos de idade. Ele inaugurou a era dos vitrais essencialmente brasileiros, com índios, feras, fogos-fátuos, esmeraldas e ouro.

Projetado pelo escritório do arquiteto Francisco Ramos de Azevedo em 1926, o Mercadão foi inaugurado em 25 de janeiro de 1933. A execução dos vitrais foi entregue ao artista russo Conrado Sorgenicht Filho, famoso pelo trabalho realizado na Catedral da Sé e em outras 300 igrejas brasileiras. Ao todo, são 32 painéis subdivididos em 72 lindos vitrais. Crédito: Rita Barreto

Conrado definiu o vitral como “uma arte ‘cinética’, pois enquanto as obras de pintura ganham vida pelo reflexo das luzes que as iluminam, no vitral a luz não é refletida, e sim projetada através do vidro, é colorida por este e se fraciona. É a luz que dá vida ao vitral, que o revela em todo o seu esplendor.”

Em tempo: Os vitrais da FAAP (foto de capa) foram cuidadosamente executados pela Casa Conrado, sendo 58 deles projetos assinados por artistas brasileiros renomados, como Lasar Segall, Portinari, Penacchi e Tarsila do Amaral, entre outros.

Conrado III em seu apartamento na Avenida Paulista (Crédito: Milton Gamez – 17/01/1985)

Sala de Star – Viagens de Borges e Brandão

Contista, romancista e jornalista, Ignácio de Loyola Brandão é dono de uma vasta produção literária e acaba de ser aclamado imortal pela Academia Brasileira de Letras. Tomou posse na última sexta-feira, 18 de outubro e, em seu discurso, destacou a importância da cultura para o desenvolvimento do Brasil.

Em homenagem a Loyola, e na impossibilidade de convidá-lo de imediato para a estreia desta coluna, ARTUR mixou realidade e ficção, simulando uma rápida entrevista a partir de um de seus textos, uma peça teatral encenada no Teatro Anchieta em 2005, de título bastante  sugestivo: A Última Viagem de Borges  – Uma Evocação. Vamos a ela:

Como descreve essa viagem, Sr. Loyola Brandão?

Trata-se de uma alegoria sobre os últimos momentos do escritor, poeta, tradutor, crítico e ensaísta argentino, Jorge Luis Borges, que cria e perde uma palavra-síntese, a palavra perfeita, a palavra das palavras, tão ambicionada por poetas, tradutores e escritores de todas as vertentes.

O que acontece após a perda desta palavra?

Assim que a teve, Borges a esqueceu, a palavra desapareceu. Esse é o mistério. Como recuperar a palavra. Sem ela, Borges fica bloqueado.

De que forma ele tenta recuperá-la?

O personagem organiza uma “expedição” à Biblioteca de Babel. Uma expedição cheia de obstáculos e peripécias, porque queriam impedi-lo de recuperar a palavra. Na verdade, tudo não passa de uma viagem de aventuras e fantasia pelo inesgotável imaginário borgiano.  

Ignácio de Loyola Brandão (Crédito: André Conti – Agência Estado)
Leia a publicação anterior da Revista Artur na Marco Zero: Artur se rende a Fernanda Montenegro em seus 90 anos