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Grupo francês AccorHotels quer abrir 200 hotéis em 2 anos no Brasil

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O grupo hoteleiro AccorHotels, de origem francesa, chegou ao Brasil há 41 anos. A empresa opera atualmente 300 unidades hoteleiras. O plano é chegar a 500 unidades até 2020. Parte da estratégia, explica Patrick Mendes, CEO da empresa na América do Sul, passa pela chegada de bandeiras ao Brasil. Em 2019, o Rio de Janeiro terá a primeira unidade da marca de luxo Fairmont, que vai abrir as portas em Copacabana. O Rio ganhará ainda o primeiro empreendimento de uma nova marca de estilo de vida, a JO&JOE.

Mendes diz ser um otimista e garante que o clima de polarização política recente, não comprometeu seu estado de espírito quanto ao Brasil. “A polarização que aconteceu aqui nós vimos em 2016 nos Estados Unidos. E também no ano passado nas eleições na França. Claro que há elementos locais, mas, de uma forma mais ampla, essa polarização é resultado dos tempos em que vivemos. Do excesso de informação circulante e do imediatismo com que ela circula. Não é algo exclusivo de um país”, observa o executivo.

Otimismo com o potencial do Brasil

De acordo com Mendes, parte desse otimismo vem do potencial que o Brasil tem no setor turístico. Ele cita dados da Organização Mundial do Turismo que colocam o país na primeira posição no quesito beleza da natureza. No entanto, o problema é que esse dado não se reflete no número de chegadas internacionais. O Brasil, afirma, “ainda é muito dependente do turismo doméstico”.

Patrick Mendes, CEO da AccorHotels na América do Sul

Formado numa cultura franco-portuguesa, Patrick Mendes, de 48 anos, passou grande parte de sua vida profissional no exterior. Graduado pelo INSEAD Paris, tem mestrado em gestão e MBA em gestão e marketing feitos na França. Em 2004, o executivo chegou à AccorHotels Global como vice-presidente sênior de vendas. Depois de 11 anos, assumiu a AccorHotels da América do Sul. É responsável por 285 hotéis em operação e 200 em fase de projeto, das categorias econômica às de luxo, representando volume de negócios de US $ 2 bilhões e mais de 15 mil funcionários.

Com presença no Brasil desde 1977, de que forma o grupo AccorHotels vem se adaptando às transformações da economia e do mercado nacional?

Atuamos em 100 países e todos eles passam por altos e baixos. Em nossa história, não deixamos nunca de investir na França, na Espanha, na Inglaterra ou outros países. Não deixaremos de acreditar e investir no Brasil, que nos mostra um futuro promissor e de muito potencial.

Como o atual momento do país tem influenciado no plano de expansão da empresa? O grupo chegou a colocar o pé no freio à espera de definições?

O momento econômico nos levou a reavaliar alguns projetos. Ajustamos alguns prazos, mas, ao mesmo tempo, que realizamos esses ajustes temporários, estamos fazendo investimentos grandes, pois acreditamos muito no futuro do Brasil. Posso citar a chegada, no ano que vem, da primeira unidade da marca de luxo Fairmont, em Copacabana. Vamos abrir também no Rio de Janeiro o primeiro empreendimento de uma nova marca lifestyle, JO&JOE. Hoje, operamos 300 hotéis no Brasil e até 2020 teremos 500. Nosso plano de expansão, portanto, não foi afetado. Ao contrário, aceleramos nossas metas para estar prontos a atender à demanda quando ela voltar a crescer. E já está se recuperando.

O Brasil impõe uma série de entraves que influenciam na atividade turística, por exemplo, na tributação. O que é preciso mudar, de imediato, para melhorar o ambiente de negócios no turismo?

Sempre trabalhamos próximos aos entes públicos e governamentais em todas as esferas com um foco colaborativo. Avalio que o Brasil ainda tem poucos leitos de hotéis em comparação com Estados Unidos, França e Espanha. O turismo ainda corresponde a 3% do Produto Interno Bruto brasileiro, aproximadamente. E, num país como este, há oportunidade enorme a ser explorada. Em nível mundial, o turismo já representa 10% e continua crescendo 5% ao ano. Também sabemos que no Brasil as redes de hospitalidade ainda correspondem a 30% dos hotéis, pois a maioria ainda é operada por pequenos empreendimentos. Então, vemos essa condição brasileira sempre como um enorme potencial a ser explorado e desenvolvido.

“Não deixaremos de acreditar e investir no Brasil, que nos mostra um futuro promissor e de muito potencial”

A companhia planeja o desenvolvimento de novas bandeiras para o Brasil. O que foi levado em consideração na hora de definir a expansão por meio dessas novas marcas?

Uma dessas novas marcas, a Fairmont, pertencia a uma empresa canadense comprada há poucos anos pela AccorHotels. Tão logo o negócio global se concretizou, observamos a oportunidade de trazê-la para o Rio de Janeiro. Por uma característica do mercado de luxo, é interessante operar marcas diferentes em uma mesma cidade, em vez de operar a mesma bandeira. Temos grande potencial no Brasil para operar em diferentes mercados, do econômico ao luxo.

Qual é a previsão de abertura de unidades nos próximos anos? Quanto isso significa em investimentos? É um ritmo maior ou menor do que em anos anteriores?

Desde o começo dos anos 2000, estamos adotando ritmo acelerado de expansão no Brasil. Já inauguramos hotéis em capitais, cidades secundárias e terciárias em todo o país. Isso tem ocorrido sobretudo com as marcas econômicas Ibis, Ibis Budget e Ibis Styles. Essa expansão se acelerou nos últimos anos em razão de maior disponibilidade de terrenos, investidores propensos a aplicar seus recursos no setor de hospitalidade. Muitos dos investimentos realizados não são procedentes diretos da AccorHotels, mas, sim, dos investidores. São eles que aplicam os recursos e nós operamos os hotéis. Por esse motivo, o investimento é pulverizado.

“Aceleramos nossas metas para estar prontos a atender á demanda quando ela voltar a crescer. E já está se recuperando”

A crença no Brasil e no otimismo do brasileiro foi abalada pela polarização política vista durante o processo eleitoral e que ainda existe?

Também sou otimista! O meu otimismo não foi abalado e acredito que o do brasileiro também não. A polarização que aconteceu aqui nós vimos em 2016, nos Estados Unidos. E no ano passado nas eleições na França. Claro que há elementos locais, mas, de uma forma mais ampla, essa polarização é resultado dos tempos em que vivemos, do excesso de informação circulante e do imediatismo com que a informação circula. Não é algo exclusivo de um país.

O Brasil conseguiu tirar vantagem ao sediar dois grandes eventos esportivos: Olimpíada e Copa do Mundo? Afinal, houve um legado para a atividade turística?

Organizar eventos como esses sempre é um desafio devido ao tamanho e à complexidade dessas competições, dos recursos que elas consomem e dos resultados que entregam. Questiona-se se o valor dedicado a elas traz retornos na mesma proporção. Eu acho que o Brasil teve muitos legados positivos. Em Natal, por exemplo, acabamos de inaugurar um hotel perto da Arena das Dunas, um estádio construído para a Copa e que agora gerou demanda turística em seu entorno. São Paulo teve alguns ganhos em mobilidade e, no Rio, uma revitalização importante foi empreendida na região portuária e de Deodoro, assim como na Barra da Tijuca.

Qual é o ativo turístico que mais tem potencial e é menos explorado no Brasil?

De uma forma geral, todo o turismo brasileiro ainda pode ser mais explorado. São várias oportunidades nas áreas de negócios, lazer, estudantil, de eventos ou mesmo cultural e natural. Segundo a Organização Mundial do Turismo, o Brasil fica em primeiro lugar no quesito beleza da natureza, mas isso não se reflete no número de chegadas internacionais, que serão aproximadamente 7 milhões em 2018. O Brasil é um país que ainda depende muito do turismo doméstico.

“Precisa existir um ambiente de negócios promotor do turismo em todas as suas etapas, independentemente da existência de um ministério ou não”

A atividade hoteleira já se adaptou ao crescimento da economia compartilhada? A regulamentação já é satisfatória ou são necessárias adaptações?

Nos adaptamos à medida que o compartilhamento nos mostrou novas demandas, novas oportunidades a serem exploradas, novos costumes dos viajantes. Hoje, oferecemos produtos e serviços para atender a esse desejo dos consumidores. Desenvolvemos marcas lifestyle, que proporcionam experiências que você nunca terá com economia compartilhada, com design inovador, foco no A&B (alimentos e bebidas) e entretenimento. Isso é um grande diferencial que temos. Sobre a regulamentação, ela já está caminhando em muitos lugares. Acho que ainda vai levar algum tempo para que tudo se estabeleça satisfatoriamente. Afinal, o  setor de hospitalidade está passando por uma revolução. Portanto, entendo que algumas regulamentações e regras ainda serão definidas no mundo todo.

A tecnologia tem sido cada vez mais importante em vários segmentos da economia. Como o assunto é tratado?

Tecnologia é, hoje, um dos nossos principais pilares de desenvolvimento. Um dos que mais recebem investimento e é o que está empreendendo a maior transformação em nossa forma de atuar. Estamos investindo muito no uso da inteligência artificial, no uso de robôs que atendem telefonemas e respondem às dúvidas nas redes sociais. Temos um quarto no hotel Pullman SP Vila Olímpia que promete uma nova forma de hospedagem com recursos tecnológicos superavançados, como uma cama que se posiciona onde o cliente deseja, uma iluminação personalizada e até um armário que higieniza, seca e passa roupas. No futuro, o cliente poderá abrir o seu quarto com o olhar, identificado pela retina.

Fonte: https://www.em.com.br/